O trabalho dos motoristas da UBER: realidades, percepções de liberdade(s) e ilusões

Abstract

Na propaganda global da empresa Uber há muita promessa de liberdade no trabalho. De forma atraente e a todo tempo, potenciais “parceiros” são convidados a desfrutarem da experiência de “ter seu próprio horário” e “dirigir quando quiser” seus carros e “suas vidas”, sendo o “seu próprio patrão”1

. Essas e outras chamadas sedutoras afiançam aos trabalhadores liberdade para executar sua atividade da forma que lhes convier convidando-os a “empreender” e acenando-lhes com possibilidade de ganhos superiores às médias praticadas no mercado. Com essa retórica, a empresa transnacional vem engajando o maior exército de motoristas disponível nas grandes cidades do globo despontando como modelo de negócio e de gestão do trabalho na era do capitalismo digital. Em contrapartida, sob a alegação de autonomia desses trabalhadores para gerenciaram seu próprio trabalho sem receberem ordens e com flexibilidade de horários para executarem o serviço na hora que lhes aprouver, a Uber não considera os motoristas como seus empregados. Furta-se, pois, à responsabilidade de arcar com qualquer proteção social e previdenciária, transferindo significativa parcela de custos e riscos decorrentes do exercício da atividade. Diante desse quadro, é importante compreender bem o fenômeno deste trabalho visto como tecnológico e disruptivo para não naturalizar escolhas ou se contentar com as aparências. Este estudo objetiva investigar e analisar criticamente as percepções dos motoristas da Uber a respeito do discurso empresarial de liberdade e autonomia no trabalho pela via do empreendedorismo individual, confrontando-as com a realidade fática das suas condições de trabalho. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, construída a partir de observação direta, análise documental e realização de entrevistas semiestruturadas com doze motoristas da Uber na cidade de Salvador-BA.