O serviço social e a questão étnica

dc.citation.issueVIpt_BR
dc.creatorSantos, Gilsilene Evangelista dos
dc.creatorSantos, Valdeluce Nascimento
dc.creatorUCSAL, Universidade Católica do Salvador
dc.date.accessioned2020-10-21T14:30:29Z
dc.date.available2020-10-21
dc.date.available2020-10-21T14:30:29Z
dc.date.issued2003-10
dc.description.resumoA escolha desse tema é resultado da nossa inserção no campo de estágio, na área de Educação, no Projeto Atenção Família-Escola desenvolvido na Escola Comunitária Luiza Mahin, através da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários. É fruto, também, de nossas reflexões pessoais e de inquietações, ao percebermos que existem poucas produções teóricas e intervenções profissionais no Serviço Social que estejam respaldadas pela questão étnica enquanto categoria de análise. A experiência vivenciada no estágio veio a fortalecer o interesse em aprofundar o conhecimento referente à questão étnica e à ação profissional, levando-nos a refletir sobre a possibilidade de o Assistente Social qualificar a sua atuação, articulando a questão étnica com as demais categorias freqüentemente trabalhadas no Serviço Social. Neste sentido, o nosso objetivo é compreender até que ponto o enfoque da questão étnica no Serviço Social poderá contribuir para qualificar a ação profissional e, conseqüentemente, garantir os pressupostos presentes no projeto ético-político profissional. As relações sociais no Brasil estão marcadas pelas relações raciais, de gênero e de classe. Estas, por sua vez, não eliminam umas às outras. Ao contrário, formam um intricado complexo de relações humanas que desafiam as clássicas áreas do conhecimento como a Sociologia, a História, a Antropologia, a Pedagogia, o Direito, a Psicologia, a Geografia, a Arquitetura, entre outras, que passam a discutir a historicidade, o espaço, o território, o mundo urbano e as cidades, na perspectiva das relações sócio-raciais. Na discussão específica das relações sociais, há muito tempo o tripé raça, ciência e sociedade marcou, fortemente, as Ciências Sociais e o caráter político ideológico das elites brasileiras, em que as teorias raciais se destacam pela exaltação à miscigenação como forma de “embranquecer” a raça brasileira. As relações sociais estão marcadas, também, pela violência, discriminação, opressão e todo tipo de preconceito. Construíram-se, nas relações sociais, formas autoritárias e violentas para resolver os conflitos. A negação do outro como sujeito de direito permitiu fazer da diferença instrumento para a perpetuação das desigualdades e discriminações. Dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar – PNAD 1998, mostram que, em relação ao analfabetismo em Salvador, o percentual de afro-descendentes maiores de 15 anos é de 9%. Já entre os brancos esta taxa é de 2,6%. A renda per capita dos afro-descendentes é de 1,67 salários mínimos. A dos brancos é de 5,4 salários mínimos. Verificamos que há uma disparidade gritante entre as condições de vida da população branca e as dos afro-descendentes, e que o modelo brasileiro de relações raciais não tem garantido políticas de igualdade para os grupos étnicos que compõem esse País. No mundo da Educação, indispensável para o desenvolvimento do conhecimento humano, da troca de saberes, a escola não desenvolveu projetos e metodologias pedagógicas anti-racistas e antidiscriminatórias. Com isso, a história das populações negra e indígena, principalmente, permanece como uma lacuna na história do ensino brasileiro. As marcas do preconceito racial e social no livro pedagógico foram denunciadas por vários autores, inclusive Ana Célia Silva (1995) em A Discriminação do Negro no Livro Didático, e o Ministério da Educação eliminou, em 1998, mais de 200 títulos da relação dos livros didáticos oficiais que eram distribuídos gratuitamente para escolas e para os professores. Isto mostra como a escola tem sido um espaço de transmissão da cultura dominante e racista da elite brasileira. O material didático constitui-se uma parte do grave problema. A outra, tão grave quanto se refere à “postura” do educador, ao seu compromisso didático-pedagógico com o combate às discriminações e ao preconceito – combinados com as precárias propostas de formação de educadores apresentadas pelos governos e setores da sociedade civil – cujas conseqüências mais graves na população afro-descendente são a perda da auto-estima, a rejeição ao outro de etnia semelhante e a rejeição e falta de respeito por parte dos brancos e outros agrupamentos étnicos. Alguns estudiosos afirmam que a formação do professor é um dos elementos-chave na desestigmatização da imagem do negro; logo, estratégias como o conhecimento de conceitos relativos a etnocentrismo, cultura, relações interétnicas, minorias, aculturação, distúrbios de identidade e a dinâmica de dominação-subordinação – que rege as relações entre os indivíduos numa sociedade multi-cultural e pluri-étnica – devem compor o quadro teórico da formação do professor. Enfim, essas marcas sedimentam a formação do Estado, dos espaços de poder e da vida cotidiana da população. Pensando na função social dos diversos profissionais é que nos propomos a introduzir o estudo acerca dessa problemática na ação profissional do Assistente Social, aqui entendida a partir de Marilda Iamamoto (2003, p. 10), quando afirma que a leitura hoje predominante da “prática profissional” é de que tal ação não deve ser concebida isoladamente, fechada em si mesma, mas incluindo os seus condicionantes – sejam eles internos, considerados os que dependem do desempenho do profissional, e externos, que são determinados pelas circunstâncias sociais nas quais se realiza a prática do assistente social. Partindo desta reflexão, entendemos a ação profissional como processo de trabalho, como um trabalho focalizado e participante dos processos de trabalho que se organizam conforme as exigências econômicas e sócio-políticas, bem como, do processo de acumulação, sendo moldado em função das condições das relações sociais específicas em que se realiza. Para Faleiros (1999, p. 133) o Serviço Social se insere de forma contraditória nas relações sociais em uma sociedade capitalista e constata, também, que a profissão sustenta, “[...] ao mesmo tempo, as necessidades imediatas de reprodução da força de trabalho e principalmente das camadas excluídas da produção”. Refletindo sobre as camadas excluídas da produção, às quais o autor se refere, percebemos que no Brasil estas, em sua maioria, são constituídas por afro-índio-descendente. Nas análises da pirâmide social, a população negra ocupa os mais baixos estratos. É flagrante a enorme concentração de negros nas faixas de menor renda da população brasileira, evidenciando que esta é a população usuária dos serviços sociais. Dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2000, uma das mais completas pesquisas que têm corte racial, constatam a inalterada situação do fosso que separa negros e não-negros na estrutura social brasileira ao longo de todo o século XX. Dados dão conta de que 64% da população é negra, contra 36% não-negra; 69% dos indigentes são negros, contra 31% de não-negros. Diante desta realidade, é fundamental analisar como se desdobra a ação profissional do Assistente Social face à população usuária dos seus serviços, do ponto de vista ético, teórico e metodológico, com um viés que inclua a questão étnica, a fim de avaliar até que ponto as Assistentes Sociais estão garantindo os pressupostos presentes no Código de Ética ou reproduzindo as relações sociais estabelecidas nesta sociedade, ainda com resquícios de ideologias racistas. Em uma sociedade em que o negro ainda é considerado incapaz, preguiçoso, irresponsável – como se isto fosse uma questão individual e não coletiva, que foi construída por uma ideologia dominante racista –, como se pode reconhecer a liberdade como valor ético central e as demandas políticas a ela referentes, zelando pela autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais? Como é possível se empenhar na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando a pluralidade, a participação dos diversos grupos, o respeito à diversidade e à discussão das diferenças se, enquanto Assistentes Sociais, não compreendermos essas diferenças? Como realizar o exercício do Serviço Social sem ser discriminado e sem discriminar por questões de inserção de classe social, gênero, raça/etnia e religião? É de fundamental importância ressaltar que é papel do profissional a consolidação do projeto ético-político profissional, e que este deve se materializar na ação profissional cotidiana, visto que foi construído coletivamente, o que constitui a imagem ideal da profissão e, como tal, possui uma determinada direção social que envolve valores, compromissos sociais e princípios.pt_BR
dc.identifier.isbn85-88480-18-12
dc.identifier.issn85-88480-18-12pt_BR
dc.identifier.urihttps://ri.ucsal.br/handle/prefix/1919
dc.languageporpt_BR
dc.publisherUniversidade Católica do Salvadorpt_BR
dc.publisher.countryBrasilpt_BR
dc.publisher.initialsUCSALpt_BR
dc.relation.ispartofSEMOC - Semana de Mobilização Científica- O serviço social e a questão étnicapt_BR
dc.rightsAcesso Abertopt_BR
dc.subjectServiço Socialpt_BR
dc.subjectSEMOC - Semana de Mobilização Científicapt_BR
dc.subject.cnpqSociais e Humanidadespt_BR
dc.subject.cnpqMultidisciplinarpt_BR
dc.titleO serviço social e a questão étnicapt_BR
dc.title.alternativeSEMOC - Semana de Mobilização Científicapt_BR
dc.typeArtigo de Eventopt_BR

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