Índice de transferência de crença religiosa
dc.citation.issue | VI | pt_BR |
dc.creator | Santana, Jubiraci de Araújo | |
dc.creator | UCSAL, Universidade Católica do Salvador | |
dc.date.accessioned | 2020-09-29T11:56:59Z | |
dc.date.available | 2020-09-29 | |
dc.date.available | 2020-09-29T11:56:59Z | |
dc.date.issued | 2003-10 | |
dc.description.resumo | Considerando que sejam Família e Religião duas categorias fundamentais – por estarem vinculadas à construção do caráter e dos valores tanto simbólicos quanto objetivos do ser – para o entendimento do ser no seu processo de vida, apresentamos ao Mestrado em Ciências da Família da Universidade Católica do Salvador e do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família um anteprojeto de pesquisa cuja intenção é estudar o que chamamos de ITCR (Índice de Transferência de Crença Religiosa), tendo como base a importância da religião e da família para a sociedade brasileira. Segundo o Censo 2000 do IBGE, conforme o quadro demonstra, mais de 90% da população manifesta alguma inclinação religiosa. A religião católica aparece como a de maior aceitação, em torno de 73,60%; os evangélicos (entre protestantes e neopentecostais), 15,41%; os espíritas/espiritualistas, 1,40%; o candomblé/umbanda, 0,33%, outros credos, 0,32%. Comparando-se este quadro com o do censo anterior verificamos uma queda acentuada entre os adeptos do catolicismo, um crescimento significativo dos chamados evangélicos5, uma pequena oscilação positiva entre os adeptos do espiritismo e uma pequena redução no contingente dos que se dizem seguidores do candomblé – nos quais quer centrar-se a ênfase da pesquisa numa etapa mais avançada. Essa oscilação do quadro de análise referido despertou neste pesquisador o interesse em estudar os processos de transferência de crença religiosa adotados pelas quatro maiores religiões referidas, com o intuito de identificá-los e compreender os fatores que têm propiciado essas mobilidades. A partir de 1946, o Brasil passou a ser um Estado Laico, após a promulgação da chamada Constituição da Redemocratização, no governo Dutra. Esse fato, sem dúvida, contribuiu para que religiões – que até então sofriam perseguições e tinham dificuldade para exercer seus cultos – se vissem livres para praticá-los, o que, certamente, possibilitaria uma maior penetração junto às diversas camadas da sociedade brasileira. Por outro lado, com as novas configurações da família brasileira há uma ruptura dos laços familiares mais significativa do que antes deste momento da história – seja pela redução da autoridade paterna, seja pela cada vez maior emancipação e independência da mulher, seja pelos avanços da modernidade, que impõe novos conceitos de família, novos arranjos familiares e, até mesmo, esses novos direitos assegurados aos membros da família. Por tais razões, acredita-se ser de grande relevância a pesquisa que já se começa a empreender. A principal questão a ser pesquisada é a influência da religião dos pais sobre a opção religiosa dos filhos. Elegemos algumas hipóteses que, consideramos, poderão nos ajudar a compreender o fenômeno. São elas: a) contemporaneamente a opção religiosa dos pais não redunda na opção religiosa dos filhos; b) a desagregação familiar implica numa menor interferência da religião dos pais sobre os filhos (menor taxa de transferência); c) a flexibilização das leis civis proporciona uma maior liberdade para a opção religiosa. Por considerar de primordial importância a transmissão, aos descendentes, dos valores e princípios das crenças religiosas, é que as religiões – em sua maioria, e a católica especialmente – procuram exercer as práticas indispensáveis à sua fé, mormente no seio da família, com o objetivo de oferecer aos jovens e às crianças, principalmente, os ritos e as bases formadores da crença, quase sempre baseados no cristianismo. Na sua Carta às Famílias (2000, p.17), o Papa João Paulo II, afirma “[...] a família foi sempre considerada como a primeira e fundamental expressão da natureza social do homem”. Essa caracterização da família serve-nos como reflexão sobre a dimensão da importância da vida religiosa para os católicos. Ressaltando o valor da transmissão de princípios religiosos pela família aos seus pares, o Papa (2000, p.72) ensina que: [...] um dos campos onde a família é insubstituível, é certamente o da educação religiosa, graças à qual a família cresce como ‘igreja doméstica’. A educação religiosa e a catequese dos filhos colocam a família no âmbito da Igreja como um verdadeiro sujeito de evangelização e de apostolado. Trata-se de um direito intimamente conexo com o princípio da liberdade religiosa. A categoria Família tem, no candomblé6, feições complexas e amplas, pois, além da concepção comum às outras religiões de família consangüínea, essa noção é levada a níveis muito mais amplos quando se insere na tradição eminentemente oral e genealógica memorizada, a noção de “família de santo” – que se constitui num instrumento fundamental para a transmissão da crença religiosa entre os praticantes dessa religião, conforme podemos encontrar em Lima (1977, p.127) “[...] os candomblés da Bahia recriaram sistemas de parentesco com segmentos de linhagem de vária origem, da cultura dominante no grupo ou de outras muito diversas”. O candomblé é uma religião centrada em torno da mãe ou do pai-de-santo, pois são aqueles que detêm a prerrogativa de consultar o oráculo. Não dispõem de textos escritos sagrados nem de ordenamento ritual de consenso: estrutura-se através de redes informais de comunicação, como atesta o livro Religião e Magia na Metrópole, capítulo 16 – O Candomblé e a Busca do Outro: a Cidade, a Religião e o Homem: Aprender uma reza, um oriqui, traduzir uma cantiga, aprender o tempero de um assentamento, identificar uma folha sagrada, saber como montar uma ferramenta ou costurar uma roupa-de-santo, tudo isso, e muito mais, compõe os mistérios do candomblé, o que só pode ser passado por um pai ou mãe-de-santo [...]”. (OP.CIT.) Trata-se de uma religião que sofreu perseguições profundas, e é vítima, ainda hoje, da intolerância religiosa por parte de parcela significativa da sociedade. Sem dispor, como as demais, de livros básicos que fundamentem sua doutrina e permitam estabelecer cânones rígidos e universais, o candomblé busca firmar-se como instância educadora, formadora e reprodutora das suas crenças, pelas práticas e ritos que são passados não só para a “família de santo”, como também para a família consangüínea. Os antigos terreiros, que deram, como se viu, a norma mais ou menos seguida pelos grupos que se formavam depois – reconheciam, antes de tudo, a descendência no santo, isto é, no sistema da família religiosa, em que a mãe-de-santo era o chefe da família, e seus filhos eram todos os que fossem por ela iniciados e não apenas os que ela tivera com seu marido ou companheiro. (LIMA, 1977, p.126). Tida nos primórdios da sua inserção na sociedade brasileira como “religião de estrangeiros”, combatida pelas classes dominantes e percebida como religião estranha à tradição cultural do País, no ano de 1900 (WILLEMS, 1967, p.66), representava apenas 1% da população brasileira. Por outro lado, os “evangélicos” ou “cristãos”7 avançam de modo ostensivo sobre a tradição religiosa do brasileiro, já tendo alcançado, hoje, quase 20% da população. Os evangélicos buscam ocupar espaços na estrutura social do nosso País, por meio da fundação de templos – já os tendo na grande maioria das cidades; da construção de escolas; da difusão da bíblica de modo sistemático; da distribuição de jornais; da aquisição de veículos de comunicação de massa como rádio e TV – assumindo uma postura agressiva na veiculação de programas, com o intuito de conquistar cada vez mais adeptos para as suas fileiras8. Souza (1973, p.114) assim se expressa em relação aos “protestantes”: Percebe-se, portanto, que lentamente se desfaz a imagem do Protestantismo como religião própria apenas de estrangeiros, ganhando força a ênfase de proselitismo iniciada pelos missionários. A paulatina aceitação de um estilo de religiosidade tão diverso do comum ao Catolicismo começa a ter ímpeto à medida em que o país atravessa, a partir de 1930, processo mais evidente de transformação social. 6 O autor se refere explicitamente ao candomblé, excluindo os rituais de Umbanda, aliás, numerosos. (N. da Cons.). 7 V. nota anterior sobre a designação. (N. da Cons.) 8 Pode-se considerar as Testemunhas de Jeová com características semelhantes, embora sua tradição se vincule ao Antigo Testamento. Esse grupo demanda considerações à parte. (N. da Cons.). Os espíritas, por sua vez, na busca de difundir e consolidar suas crenças, utilizam em seus centros de culto religioso atividades voltadas para a infância, nas suas aulas de evangelização infantil; à juventude – por intermédio da criação de grupos de jovens espíritas que desenvolvem trabalhos de arte, assistência social, incluindo-se visitas a hospitais, creches, asilos; atividades regulares de reuniões doutrinárias e mediúnicas, quando exercitam os princípios básicos codificados por Allan Kardec ou outros doutrinadores; publicação de livros de poesia, romance e mensagens atribuídas aos espíritos desencarnados (psicografia) – nos quais buscam uma compreensão da Educação sob uma prisma amplamente distinto das outras religiões, pois entendem seja a criança, o adolescente e o homem, em qualquer instância da sua vida, um ser palingenésico, que já teve outras vidas, e que deve ser percebido com base nessa perspectiva, conforme Lobo (1987, p.255): [...] da condição de educando nunca dela se despe a criatura humana: a vida inteira do espírito, nas encarnações e no estado livre, nas primeiras etapas da sua evolução como nas mais elevadas, é um permanente, ininterrupto, processo educativo. Não obstante, há um período da vida orgânica em que a atividade educativa se torna mais intencional e sistemática. São (sic) as fases da infância e da adolescência, nas quais o homem é mais plástico à ação formadora externa. Essa compreensão espírita do ser no seu processo educativo tem despertado o interesse de estudiosos de vários ramos do conhecimento, como demonstra a revista Isto é, em sua reportagem de capa, onde informa sobre a promoção, pela Faculdade de Medicina da USP, do 1o Simpósio de Medicina e Espiritualidade, organizado pela Associação Médico-Espírita de São Paulo, congregando cientistas de instituições estrangeiras respeitáveis. Pelo exposto, verificamos que há todo um empenho das religiões em passarem para os seus adeptos os elementos formadores de sua prática e doutrina, com o objetivo de preservá-las, difundilas e influir na educação e formação dos seus adeptos. | pt_BR |
dc.identifier.isbn | 85-88480-18-12 | |
dc.identifier.issn | 85-88480-18-12 | pt_BR |
dc.identifier.uri | https://ri.ucsal.br/handle/prefix/1761 | |
dc.language | por | pt_BR |
dc.publisher | Universidade Católica do Salvador | pt_BR |
dc.publisher.country | Brasil | pt_BR |
dc.publisher.initials | UCSAL | pt_BR |
dc.relation.ispartof | SEMOC - Semana de Mobilização Científica- Índice de transferência de crença religiosa | pt_BR |
dc.rights | Acesso Aberto | pt_BR |
dc.subject | Crença religiosa | pt_BR |
dc.subject | SEMOC - Semana de Mobilização Científica | pt_BR |
dc.subject.cnpq | Sociais e Humanidades | pt_BR |
dc.subject.cnpq | Multidisciplinar | pt_BR |
dc.title | Índice de transferência de crença religiosa | pt_BR |
dc.title.alternative | SEMOC - Semana de Mobilização Científica | pt_BR |
dc.type | Artigo de Evento | pt_BR |
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