A aprendizagem na educação de jovens e adultos: da leitura de mundo à produção de conhecimentos cognoscíveis

dc.citation.issueVIpt_BR
dc.creatorMalta, Arlene Andrade
dc.creatorUCSAL, Universidade Católica do Salvador
dc.date.accessioned2020-09-29T12:48:53Z
dc.date.available2020-09-29
dc.date.available2020-09-29T12:48:53Z
dc.date.issued2003-10
dc.description.resumoconstantes discursos políticos emancipatórios, sem, contudo, vê-los objetivados em seu projeto político-pedagógico. Ultimamente, os discursos em torno da EJA, continuam focalizando a implantação de Programas de Alfabetização, a exemplo da Alfabetização Solidária (nacional) e Aja Bahia (estadual) e, ainda, de Cursos Seqüenciais, como os de Aceleração e Classes Aceleradas, em substituição ao Ensino Supletivo e/ou ensino regular. Contudo, as mudanças param por aí; uma breve avaliação pedagógica realizada com alunos egressos destes programas e cursos faz-se suficiente para nos revelar que poucos ganhos estes programas e cursos têm possibilitado aos sujeitos aprendentes, no que se refere à promoção de suas potencialidades e conquistas nos campos cognitivo, afetivo e sócio-político. Portanto, podemos ainda afirmar que a exclusão continua, se não pelo acesso à escola, então por uma passagem pouco significativa por ela. A Proposta Curricular para o 1º Segmento da Educação de Jovens e Adultos (EJA), produzida pelo MEC, em 1997, traz a seguinte afirmação: [...]. A história da educação de jovens e adultos no Brasil chega à década de 90, portanto, reclamando a consolidação de reformulações pedagógicas que, aliás, vêm se mostrando necessárias em todo o ensino fundamental. Do público que tem acorrido aos programas para jovens e adultos, uma ampla maioria é constituída de pessoas que já tiveram passagens fracassadas pela escola, entre elas, muitos adolescentes e jovens recém-excluídos do sistema regular. (BRASIL, 1997, p. 34). Constituindo-se ainda em um desafio que precisa ser constantemente atualizado frente às demandas cada vez maiores do mundo globalizado, a EJA pode ser pensada, investigada e construída a partir de diferentes enfoques. Aqui, interessa-nos investigar os processos que garantem o sucesso das aprendizagens em situações escolares, pois acreditamos que, conhecendo as formas de pensar e fazer dos seus alunos, será mais fácil aos professores adequar o seu “que fazer” pedagógico, em prol de uma escola que se coloque a favor de relações sociais mais democráticas e democratizantes. Neste contexto, consideramos que as experiências e circunstâncias histórico-culturais, vivenciadas pelos alunos da EJA, se constituem enquanto espaços de aprendizagens que promovem o contínuo desenvolvimento psicológico, ou seja: é no exercício diário de suas tarefas e produções que o jovem, o adulto e o idoso constróem conceitos cotidianos e, a depender da qualidade do espaço no qual atuam, e das interações estabelecidas com e neste espaço, constróem, também, conceitos científicos. Interessa-nos, pois, conhecer os caminhos percorridos por esses sujeitos para passarem de um saber produzido no cotidiano vivenciado a conhecimentos que exigem uma atitude reflexiva, por serem mais elaborados, requerendo assim maior nível de abstração. Em outras palavras, Piaget nos diz: Todavia, não se deve esquecer um fato fundamental: é que a ação modifica constantemente os objetos e estas transformações são igualmente objeto do conhecimento. Uma das proposições essenciais de K. Marx, em sociologia, é que o homem age sobre a natureza, com o objetivo de produzir, estando ao mesmo tempo codicionado pelas leis da natureza. Esta interação entre as propriedades do objeto e as da produção humana é encontrada na psicologia do conhecimento: não se conhecem os objetos senão agindo sobre eles e neles produzindo alguma transformação. (PIAGET, 2001, p. 109). Para dar conta desta investigação elegemos duas grandes teorias que nos servirão como “pano de fundo” no cenário dos nossos investimentos e buscas para (re)pensar a Educação de Adultos, quais sejam: a Teoria Progressista de Paulo Freire e a própria Epistemologia Genética de Jean Piaget. Aliar os estudos de Paulo Freire e Jean Piaget é possível, e até necessário, na medida em que ambos preconizam ideais e princípios construtivo-interacionistas. Freire propõe uma escola que contribua para o processo de humanização do sujeito, a qual tem a realidade como ponto de partida e o diálogo como instrumento metodológico; e Piaget, por sua vez, oferece contribuições que podem nos levar a propor um processo de ensino e aprendizagem mais dinâmico e cooperativo. Enfim, ambos concordam que as situações escolares precisam ser desafiadoras para que contribuam com os processos de reflexão e, sendo assim, [...] o que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos homens não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo. (FREIRE, 1987, p. 67). Nesse movimento é que a EJA vem, ao longo das últimas duas décadas, e em consonância com outros níveis de ensino, buscando conhecimentos de Psicologia para compreender os processos de construção de novos conhecimentos. E é exatamente neste período que estudiosos do desenvolvimento ampliam os seus referenciais em torno do processo de desenvolvimento para além da adolescência, passando a considerar a idade adulta, e mesmo a terceira idade, como fases que comportam mudanças em nível psicológico. Desta forma é que a aprendizagem desses sujeitos também ganha novos contornos nos estudos da Psicologia e, ainda, da Pedagogia. Considerando a grande extensão e diversidade dos espaços de aprendizagem, privilegiaremos, nesta pesquisa, o espaço do Programa de Educação e Cidadania da Universidade Católica do Salvador (PEC), sediado na Pró-Reitoria Comunitária, por se constituir em um espaço de lutas em prol da efetiva aprendizagem de sujeitos jovens, adultos e da terceira idade, inseridos ou não no quadro funcional desta Universidade, e ainda por ser uma verdadeira escola que ganha corpo na relação conhecimento/transformação; é o espaço onde buscamos, coletivamente, construir novos referenciais acerca do aprender e do ensinar na Educação de Jovens e Adultos. O trabalho de formação em serviço do professor de jovens e adultos, e ainda a contínua investigação das relações estabelecidas em sala de aula têm-nos revelado que o movimento de buscar compreender a lógica das significações, presente no pensamento dos adultos não alfabetizados e/ou pouco escolarizados, faz-se importante para a compreensão da aprendizagem como resultado de complexas construções que o sujeito realiza a partir de suas interações com as realidades física e social do contexto no qual atua, pois o espaço de aprendizagem se coloca, também, para além da escola formal; e, mesmo no processo de escolarização, as experiências sócioculturais, vivenciadas pelos alunos, servem de lastro para a construção de novos e significativos saberes. De comum acordo com Paulo Freire, podemos dizer que a leitura que esses sujeitos fazem do mundo irá nortear as suas aprendizagens em torno dos conteúdos propostos pela escola. Escutar e dialogar com os sujeitos ativos que se encarnam na trama do ensinar e do aprender – intervindo de forma a contribuir qualitativamente com os processos de aprendizagem – constituise na nossa mais importante estratégia de “pesquisa-ação”. Para tanto, o desenvolvimento e a aprendizagem serão considerados enquanto construções diretamente relacionadas à vivência coletiva, uma vez que as experiências e circunstâncias culturais, históricas e sociais propiciam situações de aprendizagem e promovem o desenvolvimento cognitivo, como afirma T. (73 anos): “duas coisas me mantém viva: essas aulas aqui e a minha igreja. É onde eu continuo aprendendo na vida”. Construindo a hipótese de que o caminho a ser trilhado pela escola para garantir o sucesso do processo de escolarização do sujeito jovem, adulto, e ainda do adulto idoso, passa, necessariamente, pelo comprometimento político com a transformação social e que, ainda, requer competência técnica para a construção de uma verdadeira práxis que atenda aos interesses e necessidades das camadas populares é que estabelecemos como objetivo maior deste trabalho de pesquisa a investigação acerca dos caminhos percorridos por educandos jovens e adultos, na efetivação de suas aprendizagens em torno dos saberes escolares – de forma a contribuir na construção de uma proposta educacional que tenha o seu fundante nos aspectos emancipatórios das idéias de Paulo Freire e Jean Piaget. Para a consecução deste objetivo, levantamos questões que nortearão os nossos passos investigativos: a) que concepção de currículo permeia a Educação de Jovens e Adultos? E qual a que se coloca como possibilidade de uma educação emancipatória? b) qual a concepção de desenvolvimento e aprendizagem que vem, na teoria e na prática, fundamentando a educação de jovens e adultos na escola oficial? E no Programa de Educação e Cidadania da UCSAL (PEC)? c) que lugar os conteúdos escolares ocupam no PEC? E na vida dos alunos? d) qual a relação existente entre a apropriação do saber escolar realizada pelos alunos e a vida destes fora da escola? e) que vínculos cognitivos, afetivos e sócio-culturais contribuem e/ou interferem na aprendizagem dos conteúdos escolares? Os atores dessa pesquisa serão os alunos, estagiários/professores e técnicos, que dão corpo e alma ao Programa de Educação e Cidadania da UCSAL, e a condução do processo investigativo se dará sob o enfoque da Etnopesquisa Crítica que, enquanto Pesquisa Qualitativa, referenda a necessidade humana de interpretar um fenômeno posto na realidade vivenciada. A Pesquisa-Ação será o recurso investigativo que irá nos possibilitar um trabalho mais competente e comprometido com mudanças qualitativas, almejadas por sujeitos que estão impregnados de saberes e desejos que orientam o fazer pedagógico do Programa e a construção de um novo currículo para educandos jovens e adultos. A escolha por este referencial encontra ressonância nas seguintes palavras [...] o problema nasce, num contexto preciso, de um grupo em crise. O pesquisador não o provoca, mas constata-o, e seu papel consiste em ajudar a coletividade a determinar todos os detalhes mais cruciais ligados ao problema, por uma tomada de consciência dos atores do problema numa ação coletiva. (BARBIER, 2002, p. 54). Buscamos com esta abordagem teórico-metodológica ouvir os sons da vida produzidos no interior do PEC, reeditando-os em uma polifonia potencialmente fértil à emancipação dos sujeitos que se colocam enquanto aprendentes na Educação de Jovens e Adultos.pt_BR
dc.identifier.issn85-88480-18-12pt_BR
dc.identifier.urihttps://ri.ucsal.br/handle/prefix/1765
dc.languageporpt_BR
dc.publisherUniversidade Católica do Salvadorpt_BR
dc.publisher.countryBrasilpt_BR
dc.publisher.initialsUCSALpt_BR
dc.relation.ispartofSEMOC - Semana de Mobilização Científica- A aprendizagem na educação de jovens e adultos: da leitura de mundo à produção de conhecimentos cognoscíveispt_BR
dc.rightsAcesso Abertopt_BR
dc.subjectEducação de jovens e adultospt_BR
dc.subjectSEMOC - Semana de Mobilização Científicapt_BR
dc.subject.cnpqSociais e Humanidadespt_BR
dc.subject.cnpqMultidisciplinarpt_BR
dc.titleA aprendizagem na educação de jovens e adultos: da leitura de mundo à produção de conhecimentos cognoscíveispt_BR
dc.title.alternativeSEMOC - Semana de Mobilização Científicapt_BR
dc.typeArtigo de Eventopt_BR

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