Assinar um B.O. pra aprender a ser homem: as contribuições de um programa com grupos reflexivos para homens autores de violências para as ressignificações das masculinidades
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Date
2023-06-27
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Publisher
UCSal - Universidade Católica do Salvador
Abstract
Introdução: Os Grupos Reflexivos para Homens Autores de Violência contra a Mulher
são uma ferramenta que tem sido utilizada por ONGs e órgãos públicos de justiça,
com mais veemência a partir da promulgação da Lei Maria da Penha (11.340/2006),
na tentativa de reduzir a reincidência desse tipo de crime. Quando utilizada dentro dos
critérios teórico-metodológicos propostos nas suas especificações, tem se tornado um
instrumento consistente para apoiar os trabalhos com homens, problematizando
diversas questões relacionadas à construção de suas masculinidades, estruturadas a
partir de um modelo patriarcal heteronormativo. Esta ferramenta tem apresentado
benefícios, não somente para os homens encaminhados pelo marco regulatório, como
também à equipe técnica que conduz as atividades nos programas. Esta pesquisa
estudou as contribuições de um trabalho dessa natureza para os participantes de um
grupo reflexivo, o Programa "E agora, José?". Objetivos: Analisar os impactos de
uma educação crítica e reflexiva, a partir da perspectiva de gênero, nos participantes
de um Grupo de Homens Autores de Violência e identificar as principais mudanças de
paradigma, comportamentos e impactos percebidos pelos participantes em relação à
ressignificação de suas masculinidades e de suas relações familiares e de afeto.
Método: A pesquisa foi exploratória, de natureza qualitativa, com análise narrativa,
envolvendo um estudo empírico com dez participantes de um Grupo de Homens
Autores de Violência (GHAV), divididos em dois grupos: a) cinco homens denunciados
por agressão e enquadrados na Lei Maria da Penha e b) cinco homens que compõem
a equipe técnica do Programa “E agora, José?” e que conduzem os encontros na
condição de facilitadores e participantes. Foram realizadas entrevistas
semiestruturadas e as falas foram transcritas e interpretadas sob a ótica dos estudos
feministas de gênero pós-estruturalista e decolonial e dos estudos de masculinidades,
que têm por base epistemologias feministas. Resultados: A chegada dos homens
autores de violência ao programa é vista com contrariedade, resistência, como perda
de tempo e certa injustiça. Com o tempo, são envolvidos pela própria dinâmica dos
grupos reflexivos e pelas narrativas dos homens que já estão há mais tempo. Essa
troca com homens, em diferentes estágios, cria o que os participantes chamaram de
“um espaço seguro para falar sem ser julgado”, possibilitando que eles revisitem a
própria história, revejam os seus comportamentos, desenvolvam novos repertórios,
questionem os estereótipos de masculinidades que estavam vivenciando, e percebam
que junto aos privilégios, sofrem e perpetram violências e opressões. Por fim,
aprendem que podem ser homens, vivendo de um outro jeito. Saem da experiência
gratos e mais conscientes do processo de socialização masculino e feminino, e da
sua responsabilidade em interromper o ciclo da violência. Considerações finais: A
pesquisa demonstrou que a metodologia de grupos reflexivos se apresentou com uma
ferramenta de transformação pessoal e grupal para os homens entrevistados,
provocando mudanças de paradigma e de práticas comportamentais nos
participantes. Faz-se necessário ampliar a oferta para mais homens autores de
violência, bem como expandir programas dessa natureza para as escolas, conforme
exposto pelos HAV.
Description
Keywords
Relações familiares, Masculinidades, Violência, Educação, Equidade de gênero